segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Adultos com Distúrbio de Déficit de Atenção Brando





PRISIONEIROS DO PRESENTE
Distúrbio de Déficit de Atenção Brando


Embora um caso exacerbado de DDA certamente prejudique sua vítima, um caso brando tem suas vantagens. Sem dúvida, uma delas é a capacidade de abandonar velhos hábitos e começar novos, a exemplo do que fizeram os imigrantes.

Hoje os amplos contornos do distúrbio de déficit de atenção são conhecidos: acredita-se que o DDA seja uma falha no sistema de atenção que cria dificuldades para a criança ou para o adulto prestar atenção quando obrigados.

 “Quando obrigado” é a expressão crítica aí, porque a criança DDA pode ser hiperconcentrada às vezes, num assunto, ou atividade (vídeo game, por exemplo), do qual não consegue desligar-se.

 Como o DDA muda de um extremo  de atenção ao outro, de pouquíssima a demasiada atenção, alguns profissionais não gostam do rótulo “déficit de atenção”, que consideram, com razão, uma designação incorreta, O problema é mais uma inconsistência de atenção do que um déficit absoluto.

Menos conhecido do público é o fato de crianças DDA se classificarem em dois campos distintos: as com DDAH (distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade) e as com DDA sem o H.

 As crianças DDAH são os clássicos garotinhos incontroláveis (claro que também existem as garotinhas incontroláveis): crianças que não conseguem ficar paradas, dão respostas sem pensar na sala de aula e se exibem para as outras crianças, metem-se em brigas no playground, tiram C e D em tudo, quando seus pais e professores sabem que eles são capazes de tirar A e B.

 Ou seja, crianças que não “funcionam à altura de sua capacidade”. Ao longo dos anos, seus boletins escolares servem de manuais de diagnóstico da síndrome:

“Michael poderia fazer melhor se tentasse”; “Michael tem dificuldade para ficar sentado em sua carteira”; “Michael conversa na aula”; e assim por diante, anos a fio. Esta é a criança de hiperatividade clássica que não escapa à observação de ninguém. Pais e professores se queixam de que essas crianças sobem pelas paredes, o que é verdade.

Mas as pessoas deixam de ver os problemas de atenção que importunam igualmente outro tipo de criança, a com DDA (sem o H). São as que sonham acordadas, as crianças que não podem se sentar perto de uma janela.

 Desligam-se em silêncio e não ferem os nervos de seus professores, escapando assim ao exame minucioso que chove sobre o garotinho ruidoso da carteira ao lado.

Mas essas crianças podem ser igualmente prejudicadas em termos de sua capacidade de progredir na escola e fora dela. Muitas vezes são meninas em quem não se diagnosticou o distúrbio. Os meninos DDA excedem em número as meninas por cinco a um, mas essa proporção é só para crianças diagnosticadas; decerto as meninas escapam aos diagnósticos.

 Prova disso o fato de elas também serem mal diagnosticadas quanto à dislexia, que muitas vezes é acompanhada do DDA. E alguns teóricos do DDA acreditam que, devido a diferenças cerebrais entre meninos e meninas
o distúrbio só se revela na puberdade.

 A menina tranquila que fica abruptamente indisciplinada na adolescência — com distúrbios de alimentação, promiscuidade ou uma rejeição repentina aos estudos — pode de fato estar manifestando o DDA só naquele momento. Neste caso, a criança com certeza terá passado sem diagnóstico pela escola primária.
Julgou-se por muito tempo que DDA era um distúrbio da infância, um problema que a criança acabava superando em algum momento na adolescência.


 Mas recentemente essa opinião mudou. Sabe-se que 40 a60% de crianças não deixam seus problemas para trás; apenas a agitação delas é menos visível. Suas mentes permanecem frenéticas e seus corpos calmos.

Para entendermos a sombra mental do DDA, é útil examinarmos o distúrbio em sua forma desenvolvida ou manifesta. Num caso flagrante de DDA adulto, a pessoa sofre um trio de sintomas:

Impulsividade. O consagrado conceito de “controle de impulso” talvez seja a característica mais importante que distingue a criança que será amada da que será rejeitada. A criança DDA simplesmente não pode controlar seus impulsos como as demais.

 Corre para o meio da rua, deixa escapar respostas sem erguer a mão, bate no colega ao lado. Quando um impulso para fazer ou dizer alguma coisa passa por sua cabeça, ela age ou fala imediatamente, sem reflexão. Para a criança DDA, a vida é uma questão de disparar primeiro, perguntar depois.

O adulto com pouco controle de impulso pode ter aprendido a olhar antes de atravessar, mas continua a sofrer de vazamento verbal. Se passa por sua cabeça dizer ao chefe que ele é um atabalhoado, ele o faz; se as palavras “não suporto olhar pra sua cara” afloram em sua cabeça numa discussão com a mulher, elas saem.

Ações precipitadas, impensadas, saltam tão rápido quanto suas palavras impulsivas: o adulto DDA entra e sai aos pulos de empregos, relacionamentos, projetos e compromissos. E, claro, no pior dos casos, a síndrome desenvolvida o torna violento.

 Para ele, o mecanismo de reflexão, filtragem e censura, que todos precisam ter para funcionar no mundo, é defeituoso.

Tendência distração. Mais uma vez, trata-se do menino ou menina que não pode sentar-se perto de uma janela. As crianças DDA tendem profundamente à distração; é muito difícil para elas manterem-se “ocupadas” pois tudo as distrai e as desliga.

O adulto DDA sofre desse problema de maneira igualmente furiosa; às vezes lhe é impossível terminar de fazer qualquer coisa num ambiente de trabalho normal, com os telefones tocando e colegas tagarelando.

 Uma pessoa com tendência à dispersão tem de transpor obstáculos extraordinários para criar um ambiente que lhe permita concentrar-se: uma professora com doutorado em História descobriu que era obrigada a escrever todos seus textos tarde da noite, quando toda a cidade dormia. Mesmo então, o ruído da geladeira a distraía de forma intolerável.

Paul, empresário de construção de 35 anos e diagnosticado com déficit de atenção quando adulto, descreve os processos mentais dispersivos do DDA da seguinte maneira:
É como estar na seção de TV de uma loja de departamentos, cercado de aparelhos de televisão de 36 polegadas, todos transmitindo programas diferentes, todos ligados com o volume alto demais.

Depois imagine que um aparelho transmite a tentativa de assassinato do presidente, não sabendo ao certo se ele viverá ou não, enquanto outro passa uma comédia chata.

 A sensação descontrolada é que sua mente vai de um lado para o outro entre as duas telas, embora você tente se concentrar no acontecimento importante. Sua mente se fixa igualmente na coisa sem importância. Não consigo me concentrar no que é importante.

Isso acontece o tempo todo com pessoas como Paul. Podem estar no meio de uma discussão de vida e morte com a amante ou a esposa e de repente descobrir-se pensando que precisam lavar o carro.

 Não admira que esses lapsos de interesse frequentes não me piorem as coisas com o cônjuge.

A dispersão grave do adulto com déficit de atenção provavelmente é responsável por duas outras características da síndrome:

- sua dificuldade de organizar-se e a tendência a esquecer o que estava fazendo, pensando ou dizendo minutos antes.

 O clássico adulto DDA às vezes vive num redemoinho de providências e obrigações esquecidas, desviando-se de uma atividade, pessoa ou pensamento para outro, incapaz de concentrar-se por tempo suficiente para canalizar seus esforços.

Hiperatividade física ou mental. Todos reconhecem a hiperatividade física: é o adulto que balança ou sacode a perna, rabisca constantemente ou rói as unhas. É o cérebro chiando, ruidoso: a pessoa que interrompe o tempo todo; que muda de assunto numa conversa antes de o outro estar pronto para acompanhá-lo; que não dorme à noite porque seu cérebro fica agitado.

Por fim, urna faceta do DDA não muito compreendida é que algumas vítimas, mas não todas, revelam deficiências em aptidões sociais.

As crianças DDA podem ter problemas em fazer e conservar amigos, muitas vezes por interpretarem incorretamente as outras crianças, ou por não as entenderem de modo algum.

Um garotinho DDA empenhado numa luta de brincadeira não percebe as dicas de que seu amigo já está cheio, e não para na hora certa. Logo o amigo fica furioso e a briga passa a ser de verdade. O relacionamento corre perigo.

A causa desse problema de interpretação de deixas sociais não está clara, embora muitos suponham tratar-se apenas de mais uma consequência do cérebro confuso: homens (e mulheres) DDA às vezes não lêem a linguagem do corpo porque não conseguem se sintonizar o tempo suficiente para observar plenamente tal linguagem.

 Como a infância do adulto DDA transcorreu num redemoinho de atividades, ele não teve tempo de aprender a interpretar os outros.

Contudo, também é possível que as deficiências sociais da pessoa DDA sejam primárias e não secundárias, que um problema de “inteligência social” seja parte da síndrome.

Essa é a linha de raciocínio do psicologia cognitiva, que argumenta que não há uma inteligência geral, mas muitas inteligências separadas. A inteligência social, a capacidade de ler e compreender a si mesmo e os que o cercam, é um dos tipos de inteligência entre, no mínimo, seis.

Uma pessoa pode ser relativamente “inferior” em inteligência social mas brilhante em outra inteligência como a subjacente à matemática ou música.

Como as deficiências de base biológica nas aptidões sociais podem estar envolvidas na depressão — e decerto envolvidas nas formas sutis de autismo —, é possível que algumas formas de distúrbio de déficit de atenção também envolvam diferenças na capacidade do cérebro para processar o mundo social.

AS FORMAS BRANDAS
No caso manifesto do adulto DDA, esses sintomas essenciais às vezes fragmentam a vida. Da mesma forma que suas personalidades infantis, os adultos com DDA grave não vivem à altura de seu potencial.

 Quando o DDA é grave, a espera pode ser eterna e sua vítima é abandonada ao desnorteamento. A clássica história de um DDA desenvolvido é aquela pessoa que, apesar da inteligência não consegue estruturar sua vida, se torna cada vez mais desmoralizada, ansiosa e deprimida com o passar dos anos.

Mas a pessoa com DDA brando pode parecer muito diferente. Ela não é só o gêmeo ligeiramente menos caótico do irmão com o distúrbio grave. A pessoa com DDA brando pode não se parecer em nada com o indivíduo de 40 anos que ainda não se encontrou na vida.

 A hiperatividade tem, de fato, suas vantagens: grande energia, entusiasmo e a capacidade de hiperfoco são qualidades que levam às alturas em alguns campos.

Médicos de prontos-socorros comerciantes de commodities de alto risco, magnatas da indústria cinematográfica: todos esses “tipos” exibem sintomas de leve hiperatividade e muitos podem ter formas sutis do distúrbio.

 Quando um emprego exige que os empregados saltem de uma situação de alta intensidade para outra à velocidade da luz, um pouquinho de hiperatividade pode ser positiva.

 O prazer de correr riscos pode acionar o sucesso de empresários capitalistas ou qualquer pessoa numa carreira que exija o amor por empreitadas de alto risco. (Nos séculos passados, estas pessoas teriam sido aventureiros militares ou exploradores.)

Deste modo, a pessoa com DDA brando pode ser um sucesso brilhante na vida — ao menos na vida profissional — ao obter uma boa parceria entre sua atividade e os processos inquietos de sua mente.

Ainda assim, sem dúvida sofrerá com problemas de desorganização, como o alto executivo de vendas que jamais termina seu relatório ou o financista que não consegue preencher o próprio imposto de renda.

 Mas, para a pessoa levemente DDA, essas limitações não são mutiladoras.
Além de terem, por definição, problemas mais brandos, esses adultos também desfrutam de outra vantagem sobre sua contraparte com DDA grave: a capacidade de perceber e avaliar seus problemas.

Um distúrbio como o DDA influencia tanto pensamentos quanto emoções; ele atinge os processos cognitivos básicos. No caso do adulto com DDA tentando entender-se com seu distúrbio, a desorganização que aflige seu pensamento faz com que ele veja no espelho um ser humano fragmentado em termos globais.

Isso é o “ruído” no espelho, o ruído interferindo com seu senso de coerência interna. O adulto levemente hiperativo, em contraposição, desfruta da boa sorte de ser capaz de examinar-se e ver algo muito mais preciso e real: um trabalhador árduo, digamos, que não cumpre prazos finais, e precisa concentrar suas energias na compensação dessa falha.

 Em outras palavras, o adulto levemente DDA consegue formar uma imagem de si mesmo coerente e integrada, consistindo em forças e fraquezas.

 Mas no indivíduo gravemente DDA, pensamentos e percepções podem ser tão confusos que é difícil para ele organizar qualquer coisa, inclusive o próprio senso de si mesmo.

Portanto, o adulto levemente DDA é o desorganizado que pode comprar um livro sobre como organizar a vida — e depois usá-lo para seguir em frente e organizar sua vida.

 É capaz de compensar suas falhas por meios que escapam ao gravemente DDA. Tendo melhor controle sobre o “sistema de atenção”, consegue analisar seus pontos fracos e suas estratégias de aperfeiçoamento pessoal o tempo suficiente para fazer sua vida melhorar.

Assim, o executivo levemente DDA pode deliberadamente cultivar uma verdadeira obsessão por sua agenda, conferindo-a e reconferindo-a o dia inteiro.

 Apesar da grande dificuldade de lembrar-se de tudo o que tem de fazer, a brandura de seu déficit de atenção lhe permite “lembrar-se de lembrar”; a eficácia de sua memória é suficiente para lhe permitir recorrer aos auxiliares de memória sem os quais estaria perdido....

Sou uma versão incomum de pessoa hiperativa, considerando-se que fiz toneladas e mais toneladas de psicanálise.

E na psicanálise havia o conceito de ego observador, do terapeuta e cliente trabalharem juntos para desenvolver o ego. Comecei a fazer análise aos 19 anos e terminei aos 29, e desenvolvi esse ego. Portanto, acho que para mim a análise foi de certo modo um tratamento para DDA, ainda que não fosse essa a intenção.

 Acho que muitas pessoas com DDA não são tão cônscias de si mesmas quanto passei a ser graças à psicanálise; eu tivera esse intenso treinamento de observar a mim mesma.

Sem aqueles 10 anos eu pareceria muito diferente hoje; sem eles eu teria sido muito mais caótica, muito menos consciente e menos observadora, muito mais comandada por alterações de humor.

Mas, ao mesmo tempo, a análise era ruim porque a introspecção me tornava mais deprimida. Eu tendia a fixar minha atenção no lado sombrio da vida, o que também é chamado de depressão.

 No meu caso, acredito que a obsessão com o lado sombrio seja na verdade uma coisa cognitiva. É parte de meus problemas mais profundos com foco. Assim, para mim, a auto-observação era uma espada de dois gumes.

Hoje, com o diagnóstico, a medicação e a análise, conquistei uma inteligência emocional. Não a tinha antes. Pela primeira vez, tenho o senso de contexto.

Se estou no campo e uma sensação de tristeza toma conta de mim, não digo “Sou uma pessoa terrível” e começo a ruminar sobre tudo de ruim que me aconteceu. Agora posso dizer apenas:
“É um dia cinzento”, e sei que preciso de mais estímulo para me animar.

Debby também refletiu sobre a natureza de um caso brando de DDA, oposto ao caso grave que descarrilou a vida do ex-marido dela.

Acho que a maioria das pessoas com DDA desenvolvido não consegue tomar uma decisão. A vida decide por elas, e são tão impelidas ao estímulo que a criança-problema, ou o marido difícil, se transforma nesse estímulo abarcando tudo. Não podem se livrar disso. Com o DDA brando, pode-se decidir se algo, ou alguém, vai ser o centro dos acontecimentos.

Acho, também, que há algo em relação à forma. As pessoas com DDA que conheço não organizam a forma — no próprio trabalho e no cotidiano. Não sabem evitar que o estímulo negativo se apodere delas completamente.

E a confiança em que se podem estruturar seu dia, seus ânimos, sua vida, suas palavras numa página, é tudo que querem.

O QUE QUEREM AS MULHERES?
Um dos temas que logo surgem ao se pensar sobre as formas mais leves de DDA é a questão feminina. Mais cedo ou mais tarde, quando se conversa com mulheres diagnosticadas com o distúrbio, experimenta-se um choque de reconhecimento: os problemas que descrevem, originados por seus déficits de atenção, parecem familiares.

A mulher que só se apaixona por homens casados, a que é brilhante em seu emprego mas infeliz no amor, a “dona-de-casa louca”: todos esses tipos culturais podem ser casos brandos de distúrbio de déficit de atenção não diagnosticado e não suspeitado.

Para começar com os efeitos do distúrbio no namoro, a vida amorosa da mulher levemente DDA (e, decerto, da que tem DDA desenvolvido) é crivada de dificuldades; não há maneira de contornar isso, embora ela possa desfrutar de uma vantagem sobre sua contraparte masculina.

 Como o cérebro esquerdo é mais consistente nas garotinhas, elas são mais capazes de compensar o distúrbio básico de DDA, sobretudo os déficits na inteligência social. (O fenômeno de mulheres com versões mais brandas de distúrbios bastante sérios em homens ocorre também com outros males, a síndrome de X sendo um exemplo notável.)

Por isso, para a mulher levemente DDA, se problema pode não ser o de alienar pessoas que quer atrair: apesar de seu distúrbio, ela pode ter aprendido, quando criança, a fazer, e conservar amigos.

Provavelmente ela não é uma desadaptada social, e seus níveis de energia e entusiasmo dão-lhe uma atração de alta voltagem. Mas às vezes ela tem problemas mais sutis para decidir de quem se aproximar e quem evitar.

 Ela pode escolher o homem errado e fazê-lo repetidas vezes, em parte porque não absorve todas as informações que teria que aprender com os relacionamentos que outras mulheres vêem desde o início.

Ou, numa outra variante da constelação DDA, ela pode absorver demasiadas informações. Com suas dificuldades de filtrar, sente-se incapaz de analisar meticulosamente o essencial, capacidade que as mulheres DDA não têm.

Quando há um monte de dados sobre um novo namoro em perspectiva, parte dos dados será boa, parte será ruim. Afundada na semiótica do namoro, a mulher DDA acaba não sendo capaz de distinguir o time de casa dos visitantes.

Mas, além de quaisquer problemas que enfrente em termos de inteligência social, ela às vezes seleciona em favor de complicações ao escolher o parceiro.

 Aqui a tremenda necessidade de estímulo da mulher DDA pode colher um redemoinho. Talvez o motivo mais importante pelo qual uma mulher brandamente hiperativa escolha homens que não são bons para ela é o fato de eles lhe despertarem o interesse que o rapaz simpático mas “chato” (e este é o termo que ela emprega) não desperta.

Algumas mulheres se conhecem; dirão que precisam de um homem com “pique”. Dependendo da mulher, “pique” pode significar um astro do rock, um executivo do mundo dos espetáculos ou um poeta sorumbático.

 Qualquer que seja a forma, essas mulheres sabem com muita precisão o que não querem: uma presença calma e estável que as deixe entediadas.

Ajudadas e instigadas pela volumosa indústria editorial de auto-ajuda, essas mulheres acreditam que suas preferências “ruins” advêm de infâncias ruins, do fato de serem ambiciosas e criativas demais para “adaptar-se” ao bom moço, ou precisam de “emoções fortes” ou de serem as mulheres inteligentes que fazem escolhas tolas.

 Mas não desconfiam que suas opções românticas podem advir de uma origem biológica, um defeito no seu aparelho de atenção cerebral.

Uma das pacientes de John, com uma carreira bem-sucedida e que passara 20 anos se apaixonando por homens errados, finalmente procurou ajuda quando se viu em perigo de afastar o único homem bom que fora afinal capaz de amar.
 Contou a John sobre sua mais recente noite infeliz com esse homem, o tipo de noite que lhe acontecia mais do que com a maioria das mulheres.

Após uma semana muito estressante no trabalho, seu amante lhe preparara uma refeição maravilhosa: vinho, boa comida, luz de velas; tudo isso a ser seguido de uma massagem.

 Era uma produção de fantasia, o tipo de noite com a qual a maioria das mulheres pode apenas sonhar. Era o sonho dela também e horrorizou-se ao ver-se sutil, embora obstinadamente, sabotando o clima.

 Não conseguia relaxar, soltar-se; não conseguia sentir-se bem em relação ao amor óbvio desse homem por ela. Logo começou a espicaçá-lo, desafiando pequenas coisas que ele dizia, retrucando meio agressiva a observações benignas que ele fazia, não respondendo a outras. E continuou assim até provocar uma briga. A noite foi arruinada.

Ela procurou John em busca de ajuda. Apesar da dificuldade de relaxar numa relação amorosa positiva, ela não queria retornar aos amores turbulentos de sua vida até então; queria estabilizar-se no amor, enfim.

 Se destruísse essa relação, sabia que isso poderia significar uma regressão rápida e certa aos homens que não telefonavam, aos solteirões convictos, aos recém-divorciados. Sabia que era ela quem atiçava o fogo nos problemas que ameaçavam seu relacionamento atual.

O diagnóstico de DDA chegou-lhe como uma revelação, embora sem dúvida não desconhecesse seus sintomas ela sempre se achara estimulante, no sentido comum do termo.

Mas não fizera a associação entre seu modo de ser e a paixão por homens que não lhe serviam. O que iria aprender é que para ela, como para muitas mulheres levemente DDA, homens “ruins” são muito estimulantes em todos os aspectos, inclusive o da bioquímica cerebral.
 Ela era uma mulher que se automedicara não com cocaína ou anfetamina, mas com a droga de maus relacionamentos. Por iso é que pessoas com DDA casam-se com outras DDA, como fizera Debby: escolhem um ao outro pelo alto estímulo que a pessoa com DDA seguramente proporciona.

A vida mudou radicalmente assim que ela recebeu o diagnóstico e iniciou o tratamento. Agora, pela primeira vez, podia ficar sentada, quieta; tolerava um dia calmo na presença de um amor benevolente. Podia fazer mais que apenas tolerar um relacionamento calmo com um homem bom.


 A diferença era tão gritante que passou a chamar a medicação que lhe fora receitada de “poção do amor”. Sem isso não poderia amar um homem que valia a pena ser amado."

Este texto é resultado de uma pesquisa , é uma compilação ...
Catherine  Johnson 
O texto está livre para divulgação, desde que seja citada a fonte:
Pesquisado por dharmadhannya
 
Posted: 04 Jan 2014 01:55 PM PST




http://veja.abril.com.br/noticia/saude/16-perguntas-para-entender-o-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade


 Psicopedagogia/ Seu filho tem déficit de atenção?
Conheça as causas do problema e os sinais de que a criança pode ter o problema
Por Ana Lis Soares, filha do Marco Túlio e da Arlete
10.07.2013
  
TDAH na escola
Segundo o mestre em educação pela Framingham State University, Dr. Gustavo Teixeira, no livro “Manual dos Transtornos Escolares”, alguns sinais podem indicar que a criança sofre do problema:
- Deixar de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades;
- Ter dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
- Parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra;

Não seguir instruções e não terminar seus deveres escolares. Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades;
- Apresentar esquecimento em atividades diárias;
 - Falar muito;

Dar respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
- Ter dificuldade para aguardar a vez;
- Interromper ou se meter em assuntos dos outros (por exemplo: intromete-se em conversas ou brincadeiras) etc.
- Diagnóstico – o que fazer?

O diagnóstico de TDAH é essencialmente clínico. Não existem exames laboratoriais ou de imagem que o façam. A investigação envolve detalhado estudo clínico por meio de avaliação com os pais, com a criança e a escola. A avaliação com os pais deve abranger um histórico da criança desde a gestação até os dias atuais.


Conheça as causas do problema e os sinais de que a criança pode ter o problema.

“Tem que olhar no fundo dos olhos e repetir. Às vezes, até pedir que ela repita o que eu disse e perguntar: ‘Entendeu? Então me fala o que você tem de fazer”. Se uma mosca entra no quarto, lá vai embora a concentração.


Como saber se meu filho tem TDAH?
O transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos comportamentais com maior incidência na infância e na adolescência. Pesquisas realizadas em diversos países revelam que ele está presente em 5% da população mundial em idade escolar. Trata-se de uma síndrome clínica caracterizada, basicamente, por três sintomas: déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade.

 Mas nem sempre é preciso haver os três sintomas simultaneamente. Crianças e adolescentes diagnosticadas com TDAH têm dificuldades de focar em um único objeto, têm fácil distração (vivem “no mundo da Lua”) e não conseguem terminar atividades como deveres de casa.

Além disso, apresentam facilidade em perder materiais escolares, chaves, dinheiro ou brinquedos. A criança ou adolescente que possuem o transtorno têm dificuldade de ficar parados, se levantam por várias vezes da cadeira na escola ou na hora do jantar, por exemplo.

Causa controversa
Um assunto controverso, com teorias diversificadas. Uma das principais correntes defendem que o TDAH seja um fenômeno biológico – ou um transtorno neurobiológico, funcional e hereditário (forma de diagnóstico americano, seguido pela maior parte dos profissionais brasileiros).

 A outra afirma que se trata de algo psicológico ou social, ligado à relação da criança com a família e o ambiente em que vive (forma de diagnóstico usado pela maior parte de profissionais da França).

Recentemente foi publicado um estudo que mostra uma diferença gritante em número de crianças com TDAH nos EUA (que possui 9% das crianças diagnosticadas) e a França (com 0,5%). Essa discrepância numérica pode ser explicada, segundo autores da pesquisa, pela forma com que o transtorno é diagnosticado – na França, há maior preocupação com a avaliação da família e do meio social em que a criança vive.

 “O  problema existe em todos os lugares, seja na França, EUA, Brasil. Mas podemos pensar que nos EUA, por exemplo, há uma pressão maior para o trabalho, os pais têm menos tempo para a educação e interação com crianças de 0 a6 anos, fase importante na formação da identidade.

Já em países nórdicos, existem leis que protegem mais a gestante, a licença-maternidade é bem maior. Os filhos americanos apresentam estrutura emocional mais imatura. São inteligentes, mas imaturos”, defende o neurologista infantil e colunista da Pais & Filhos Saul Cypel, pai de Marcela, Irina, Eleonora e Bruna.

É biológico
Alguns especialistas acreditam que a herança genética seja o fator mais importante na causa do TDAH. Muitas crianças com o transtorno possuem familiares (pais, tios, avós, irmãos) com o mesmo diagnóstico.

 A incidência pode chegar até dez vezes mais em famílias de crianças com TDAH quando comparadas à população em geral. Segundo o livro “Manual dos Transtornos Escolares” (2013, editora Best Seller), filhos de pais hiperativos possuem maior chance de terem o transtorno.

Segundo a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção, o número total de casos no Brasil está entre 5% e 8% das crianças. Estamos mais próximos dos EUA, portanto. Em 60% dos casos, o transtorno tem diagnóstico tardio, acompanhando o indivíduo para a vida adulta.

 Eles enumeram alguns fatores que influenciam na tendência ao transtorno, todos associados à herança genética.

Fatores de influência para a TDAH (segundo a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção:

Hereditariedade: os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a10 vezes maior do que na população em geral, o que chamado de  recorrência familial.

Substâncias ingeridas na gravidez: pesquisas indicam que mães com problemas com álcool têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram necessariamente uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.

Sofrimento fetal: alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram causando sofrimento fetal, tinham mais risco de terem filhos com TDAH.  A relação de causa não é clara. 

Exposição a chumbo: Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH.

Fatores psicológicos: Para o neurologista Saul Cypel, o Transtorno de Déficit de Atenção não tem origem biológica. Para ele, se a causa fosse biológica, não haveria exceção.

“Se você coloca a criança em frente à televisão, ela fica horas! Super concentrada. Se sou míope, por exemplo, sou míope sempre – com prazer ou sem prazer. Se quiser jogar, vou continuar míope, do mesmo jeito que serei ao arrumar meu quarto. Biológico é biológico”.

No Brasil, há um uso de medicação muito intenso. Os diagnósticos aqui são realizados na maioria das vezes pelo modelo de questionário americano. “Não sou a favor da medicação, acho que tem que ser muito criterioso, tem que olhar muito a família, fazer uma terapia com a família. Quando você coloca esse tipo de diagnóstico, é preciso ter muito cuidado. Virou moda”, defende Dr. Saul.

A professora da Escola AB Sabin de São Paulo, Taís Andrade, mãe da Luiza, tem pós-graduação em distúrbios de aprendizagem e psicopedagogia e acredita que há abuso de uso de medicamentos no Brasil.

 Para ela, o tratamento ideal deve ter a união de escola, pais e médicos. “É comum que até os mais novinhos sejam tratados assim. É precipitado, não concordo. Elas estão explorando o seu mundo, se colocando... É complicado”, acredita a professora.

O papel da escola
Os professores da educação infantil hoje são mais preparados a perceber os sintomas e, precocemente, conversar com os pais. Além disso, são treinados para lidarem com as crianças com TDAH, ensinarem de forma eficiente, o que é um grande desafio.

Foi na escola que a Ullya, filha da Flávia, que o problema foi percebido e, graças à união da família, dos professores e diretores, e dos profissionais da saúde, a menina agora demonstra melhora.

 “É incrivelmente desgastante e frustrante sentar para estudar para provas com ela, por exemplo. Mas também existe o outro lado, chamado hiperfoco, quando ficam obcecados por algo, o que pode ser positivo. Ullya agora está obcecada com vôlei.

 Ultimamente, as notas dela começaram a melhorar muito (desde o diagnóstico), e com o suporte das professoras e corpo docente, estamos todos apoiando a Ullya”, finaliza a mãe.

O tratamento pode envolver medicamentos (estimulantes) e intervenções psicoeducativas e psicoterapêuticas (educação e aprendizagem dos pais, professores e paciente acerca do transtorno).

No tratamento, gestos simples como colocar a criança próxima ao quadro negro em sala de aula e longe de janelas já podem ajudar.

Há também grupos de apoio a familiares e portadores de TDAH, formado por médicos, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas familiares, fonoaudiólogos, psicopedagogos e demais profissionais de saúde mental também participam dos encontros e reuniões.

No Brasil, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) é a maior organização brasileira de portadores, familiares e profissionais da educação e da saúde mental.  http://www.tdah.org.br/

Crianças diagnosticadas devem receber tratamento – seja de medicamentos e/ou de terapia – pois, se não bem cuidadas podem apresentar uma série de prejuízos ao longo dos anos, como perda de autoestima, tristeza, falta de motivação, episódios depressivos e, no extremo, podem se tornar adultos anti-sociais e inseguros.

Mas, quando tratadas, as crianças se tornam adultos e profissionais normais. O jornalista e escritor Gilberto Dimenstein foi diagnosticado tardiamente com o transtorno. Ele falou em entrevista a Pais & Filhos em 2007 que começou a enfrentar problemas ainda jovem.

Durante a época da escola, ele chegou a ser considerado semi-analfabeto. “Era uma sensação horrível, como se eu estivesse na 25 de Março em véspera de natal. É uma coisa enlouquecedora”.

O jornalista descobriu o problema bem mais velho e o médico lhe indicou a medicação. O filho mais novo de Dimenstein também foi diagnosticado com TDAH e toma remédio. “Meu filho realmente melhorou, mas ele também começou a se auto-disciplinar. Isso é difícil, ainda mais para quem não sabe. É como tentar deslizar no gelo”.  

Consultoria: Neurologista infantil e colunista da Pais & Filhos Saul Cypel, pai de Marcela, Irina, Eleonora e Bruna.
Livro “Manual dos Transtornos Escolares: entendendo os problemas das crianças e adolescentes na escola", 2013, de Gustavo Teixeira, Editora Best Seller LTDA. 

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