terça-feira, 10 de dezembro de 2013

TABAJARAS

Povos indígenas Tabajara e kalabaça de Poranga: Conhecendo a verdadeira História





No território cearense, viviam cerca de vinte e dois povos indígenas, cada um com seu próprio idioma e cultura. Esses povos eram os seguintes: Tarariú (kanidé, Paiakú, Genipapo, Jenipabuçú Arariú, Anacè, Karatiú...), Kariri (Kaririaçú, kariú) Tremenbé, Guanacé (Guanacésguakú e guanacé-mirim). Jaguaruana, Jagoarigoara, Assanasseses-açú, Kataguá, Aimoré, Aperikú, Aperuí, Aeriú, kixerariú, Irapuã, Acimi, Vidaí, Xibaba, Akarisú, Tokaú, Akoki, Tukurijú, Okingá, Karkua-açú, Guaiú, Jurupary-açú, Kamamú, Parnamirim, Xixiró, Xoro, Kipapá, Kikipaú, Humor, Kabinda, Genipapo-açú, Jurema, Jururu, Irapuã de Granja, Kandadu, Kereréu, Kandandú, Akigiró, Kipipau, Akanhamakú, Anaperú, Kixariú, Guarium, Kixará, Panaticnarema, Javo, Apujaré, Koansú, InhamúnIinãmu), Kixelô, Akriu, Juká, Perga, Juguaruana, Jguanbara, Palié, Panaté, Piané, Kaním, Kalabaça, Baturité, Kamocím, Ikó, Ikozinho, Kariré, Akonquaçu, Pitaguary...
  Todos esses povos eram denominados Tapuya, ou seja, eram índios que não eram Tupy (inimigo), mas os colonizadores usaram esse termo para se referir a esses povos como seres inferiores. Também havia os Tabajara e os Potygara do grupo Tupy e os índios Tapeba resultado de três outros povos, os Potyguara, Tremenbé, Kariri. Nesse tempo o homem indígena vivia em plena harmonia com natureza,             ninguém era dono da terra e havia uma mutua proteção.  Com a chegada do não índio a essa terra, hoje denominada Brasil, especialmente o Ceará, sofreu muito com a ocupação que foi de uma rapidez muito grande e sua cultura muito reproduzida. Fazendas de gado foram montadas transformando-se em verdadeiras fortalezas contra os índios.
Numa necessidade de provir às cidades de carne o Bandeirante Domingos Jorge Velho (considerado fundador da cidade de Crateús), entrou no Ceará pelo interior de Icor vindo da Bahia e Paraíba, após ter sido liberado da prisão explora os sertões. A atuação dele era a matança dos índios (descrito no livro Ouro Vermelho), formou-se um exercito de índios soltos, dai a razão do seu sucesso, pois conhecia os modos de guerrilhar do povo nativo.
Pero Coelho fora o responsável pelos diversos números de militares no Ceará e conseguindo parte do seu objetivo, a mão-de-obra escrava dos indígenas. A Chapada da Ibiapaba (Serra da Ibiapaba) era um local de resistência indígena dirigida pelos jesuítas Francisco Pinto e Luiz Ferreira, por intermédio de indígenas Potyguara, nessa passagem foram formados os aldeamentos de Poranga, Messejana e Caucaia. As terras do Ceará foram dadas em concessões de Sesmarias somente a quem tivesse muitas posses, e chegavam a medir cerca de quarenta léguas de terra, e a criação do gado marcou a posse das terras indígenas que passaram a ser defendida por seus atuais “donos” que não hesitaram em matar homens como se fossem animais, defendendo “suas propriedades” da ação indígena.
    Trava-se de uma guerra indígena contra o gado, havendo um grande massacre e o índio que era o único dono da terra passa a ser considerado um “invasor”. Algumas etnias por não fazerem uso de armas modernas foram dominadas, e para a liberdade da família (mulheres e filhos) passaram a ficar do lado do homem branco lutando contra seus irmãos indígenas, mas como não eram bobos conseguiam prender os soldados na tentativa de resgatar os indígenas presos. Os indígenas sempre resistiram sendo assim nunca foram totalmente dominados, apesar de todas as conquistas dos não indígenas ter acontecido de forma autoritária e através de traição. Em 1712 iniciou-se a Confederação Indígena dando inicio a uma grande guerra, atacaram Aquiraz, onde estava situada a sede das negociações dos colonos em 18 de agosto 1713, unindo ainda mais os indígenas.
Segundo CORDEIRO (1989) a luta indígena perdura há século com muita luta e coragem e alguns guerreiros e lideranças indígenas bem antigas deveriam ser lembrados entre eles estão: Batatã (coqueiro) um dos heróis indígenas do Ceará da etnia Tabajara e Cobra Azul (Tabajara), Diabo Grande (corubixaba) Tabajara, Irapuã (Mel Redondo) cacique Tabajara, Jacobo de Sousa (Tabajara) Largatixa Espumada                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        
(Tabajara), Mandioca puba (cacique Tabajara), Tavira (Guerreiro Tabajara), Tiarara (Tabajara).
Como fora descrito, a história dos povos indígenas Tabajara e Kalabaça de Poranga vêm desde muito tempo atrás, lá de seus antepassados, onde viviam a desfrutar das belezas naturais da “Mãe Terra” dadas por “Pai Tupã” (Deus- o criador de todas as coisas). A chapada da Ibiapaba era completamente habitada por indígenas e em diversas regiões como Crateús e litoral os povos já estavam organizados, se apoiando em outras localidades do Ceará onde ainda faltava essa visibilidade, viviam a procura de melhor qualidade de vida para todos da aldeia, como viviam da caça e da pesca eram obrigados a se deslocarem de um lugar para outro, em busca de sobrevivência.
            A cidade de Poranga é um lugar onde muitos antepassados indígenas se fixaram devido à riqueza de água existente no lugar, e toda a beleza da terra. Nessa época quando habitada apenas pelos nativos, era, segundo o mais sábio (idosos) muito bonito e não tinha perseguições, disputa pela terra e nem visão capitalista, todos viviam mesmo em uma comunhão. A forma de sobrevivência era centralizada apenas nas riquezas da água e no uso da terra. De um lado moravam os Tabajaras, do lado do pinga (cachoeira), do outro lado do morro (brejo) estavam os kalabaça, ambas as etnias donas de uma cultura rica, cheia de crenças, tradições e rituais sagrados, que até hoje são incompreendidas pelo não índio.
Os Tabajara e Kalabaça respeitavam a natureza, pois tudo que existia na terra para eles era sagrado, assim como a vida de cada membro do seu povo. Foram os grandes investimentos nas terras, feitos pelos não indígenas, principalmente com criações de gados trazidos para o Ceará, que eram soltos nas matas, que trouxe a destruição de toda paz ali existente. Quando os antepassados indígenas saíam para caçar encontravam o gado e matava-o, pois os considerava “bicho do mato” e levavam para a aldeia, onde faziam uma grande festa comemorando assim uma boa caçada. Percebendo o ocorrido, os fazendeiros donos do gado iniciava a uma procura, na tentativa de esclarecer o mistério, encontrando assim os nativos, que passaram aos poucos a serem considerados ladrões, gente malvada, invasores bicho do mato, selvagens, o que justificava a matança sendo perseguidos pelos capangas. Os indígenas ainda eram considerados incapazes, seres que não dispunham de direitos. Tiveram que calar para continuarem vivos, seus costumes e tradições passou á sofrer mudanças, mas jamais foram esquecidas.
Os portugueses achando pouco todo o massacre trouxeram para o Ceará prisioneiros de Portugal para uma ocupação forçada e dai surgiu às histórias de ser “pego a dente de cachorro”, porque as índias eram forçadas a se tornarem  mulheres dos recém chegados e assim os descendente nasciam mestiços, mas com cultura indígena que era repassada por suas mães, com exceção da língua que era proibida na época.
Vários anos se passaram e em 05 de Outubro de 1988 pela primeira vez na história do Brasil os indígenas passaram a terem direitos constitucionais principalmente no artigo 231 da Constituição Federal, que os garantiu o direto á organização social, línguas, crenças, costumes, tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à união demarcá-las, protegê-las e fazer respeitar todos os bens. Com os direitos garantidos na Constituição Federal Brasileira, os povos indígenas Tabajara e Kalabaça de Poranga, através da Pastoral Raízes Indígenas, começaram a fazer algumas pesquisas aos sábios da comunidade, a fim de fortalecer a identidade étnica e cultural.
            Em 1991, a pedido de Dom Fragoso, irmã Margarete com ajuda de Helena Gomes e outros indígenas em Crateús, começaram se assumir remanescentes na diocese de Crateús, onde Poranga também pertencia, como consequência nasceu a “Pastoral Raízes Indígena” para que pudesse dar força ao movimento indígena. Algumas pessoas começaram a participar de reuniões com outros povos, no intuito de crescer e fortalecer a visibilidade indígena dos Tabajara e Kalabaça. De 1994 a 1998 houve diversas Romarias onde se visitou varias regiões com o povo indígena “silenciado”.
Em 1994 foi realizada a primeira assembleia indígena do estado do Ceará em Poranga, com a participação de todos os povos indígenas do estado, algumas lideranças da Paraíba, a AMIT (Associação Missão Tremembé) representada pela Maria Amélia Leite e outros apoiadores da causa indígena. Foi um momento primordial, pois a partir da assembleia algumas lideranças dos povos Tabajara e Kalabaça, passaram a participar de outras reuniões dentro e fora do estado, buscando novos conhecimentos para o fortalecimento da luta e identidade.
Em 1998 deu-se inicio a educação escolar indígena em Poranga, com uma sala de Adultos, com o objetivo de trabalhar a cultura e a formação de lideranças na lutar pelos nossos direitos, a mesma funcionava em uma casinha do Raimundo Bento próximo a igreja de Santo Antônio, com professores que trabalharam voluntários até o meio do ano. Esses mesmos professores participavam do planejamento juntamente com os parentes de Crateús na Escola Pio 12. Em 1999, com um excelente trabalho feito pelos professores, na conscientização dos pais e das famílias, outra sala foi aberta sendo de Educação Infantil, fortalecendo ainda mais a luta indígena.
            No ano de 2000, começou a luta pelo o reconhecimento da Educação Escolar Indígena de Poranga, com o aumento do número de alunos e de salas, os professores e lideranças indígenas, se organizaram e juntamente com o movimento indígena do Estado do Ceará, reivindicaram o apoio da SEDUC (Secretaria de Educação do Estado do Ceará) e no mesmo ano foram atendidos com a contratação de alguns professores.
            Em 2001, as lideranças sentiram a necessidade de criar uma associação, que fosse uma referência na comunidade e legitimada para o Governo Federal, onde através dela pudessem se organizar e lutar pelos direitos constitucionais. No dia 21 de Maio do mesmo ano foi concretizado esse desejo, com a criação do CIPO (Conselho Indígena de Poranga).
             Em 2002, bem mais organizados, começaram a pensar em construir pelo menos uma sala, para que funcionasse a escola, então organizaram as famílias iniciaram um lindo trabalho voluntário, e com doação de fora do país, conseguida pela Pastoral Raízes Indígenas, construir a primeira sala de aula, estrutura própria da comunidade. No mesmo ano estavam passando por sérios problemas de discriminação e preconceitos, muitas pessoas da cidade de Poranga não acreditava na existência dos Tabajara e Kalabaça e tentavam trabalhar contra a essa organização, inclusive a gestão municipal. Então convidaram o promotor de justiça da época, Dr. Paulo Roberto teve a ideia de realizar fóruns nos municípios com indígenas se assumindo e organizados para maior visibilidade. Assim esteve em Poranga dando esclarecimento sobre etnicidade e exigindo respeito para com os Tabajara e Kalabaça.
            No ano de 2003, não pararam de persistir e conseguiram construir mais quatro salas, com homens, mulheres e meninos trabalhando voluntários, e financeiramente, do mesmo modo que na construção da primeira sala, visando o sucesso da comunidade.
 Em 2004, conseguiram aprovar o primeiro projeto a ser executado na comunidade, financiado pela CARITAS BRASILEIRA um órgão da igreja católica, com a quantia de aproximadamente de cinco mil reais. O projeto teve como nome “Nossos Pais e Avós Nos Contaram e Nos Contam”, o mesmo contou com a participação de todos os professores indígenas, 25 alunos da escola, com idade entre 12 a 15 anos, e com os sábios da comunidade (Rezadores, Meizeiros, Toadores etc.), onde foras explorados vários temas entre eles: Nossas terras, Nossa identidade, Nossos rituais, Nossos rezadores, Nossos costumes entre outros. No final do projeto conseguiram fazer vários filmes mostrando a importância da cultura os povos indígenas de Poranga.
            Um ano depois em 2005, através de muitas lutas e reivindicações conseguiram a construção do prédio da escola, pelo o Governo Federal através do Banco Mundial, com o modelo FUNDESCOLA, no momento o governador do Ceará era Lúcio Alcântara. Essa escola dispunha de uma ótima estrutura física. Em 05 de agosto do mesmo ano fora dado um passo importantíssimo na luta pela demarcação das terras, onde fora feita à primeira retomada do espaço de plantio da Aldeia Umburana. Lá fora feito um grande roçado comunitário. Neste mesmo ano abriu a primeira sala de aula de Ensino Médio na escola.
Logo no ano seguinte em 27 de janeiro de 2006 a Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jardim das Oliveiras que foi inaugurada, com uma grande festa. Ainda nesse ano formou-se o JP (Grupo Jovens Pensantes) um grupo de jovens que tinha como objetivo, esclarecimento sobre determinados temas principalmente voltado para a luta indígena, apresentações de danças e produção de arte. Em 2007 houve o primeiro cadastrado pela FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), e foi formado o primeiro Conselho Local de Saúde Indígena (COLOSI) dos povos Tabajara e Kalabaça da região. Onde através dele pode-se estar acompanhando e cobrando uma saúde diferenciada. As mulheres começaram a se organizar e fundaram a AMITK (Articulação das Mulheres Indígenas Tabajara e Kalabaça de Poranga) com o objetivo de fortalecer a mulher dentro da sociedade e do Movimento Indígena. Para fortalecer ainda mais a resistência étnica e cultural, uma grande retomada fora feita a Aldeia Cajueiro, com área de aproximadamente 4.000 mil  hectares, que fica a aproximadamente 38 km da Aldeia Umburana.
            No ano de 2008 iniciou-se a primeira sala de aula na Aldeia Cajueiro. E na escola o funcionamento da sala de informática. Organizou-se o Museu Indígena com o nome de “Oca da Memória” em duas salas construída anteriormente com trabalho voluntario, que fora transformada em apenas uma sala, mas que ainda e necessário uma melhor estrutura. Neste mesmo ano houve na Aldeia Cajueiro a XIV Assembleia Estadual dos Povos Indígenas do Estado do Ceará, que contou com parentes de outros estados, e diversas organizações, contabilizando cerca de 250 pessoas reunidas, trazendo assim uma maior visibilidade para as famílias que lá se encontram bem como para a Aldeia Umburana e todo o Movimento Indígena no Ceará. Iniciou-se o Magistério Indígena II.
Outras conquistas foram alcançadas em 2009, um grupo considerável de professores concluiu, alguns ingressaram na Faculdade cursando Matemática e outros optaram por filosofia. Em 2010 houve um grande crescimento nos resultados do SPAECE e a elaboração e aprovação do projeto PDE. A Contratação de uma professora para o laboratório de informática e outra para a biblioteca, o vestibular indígena para a Faculdade de Intercambio Cultural (3° grau indígena) e a aprovação de projetos para a Aldeia Cajueiro. Apesar de termos membro da comunidade que fez um trabalho científico no curso pela UFC, um dos grandes momentos para a comunidade Tabajara e Kalabaça foi à presença de um estudante da UECE do curso de Ciências Sociais, que concluiu pela primeira vez um trabalho cientifico produzido por alguém que não faz parte da comunidade, mas que despertou interesse e que sua tese de mestrado terá o mesmo povo como estudo.
No inicio do ano de 2011, uma grande alegria, a aprovação e execução do Projeto Culturas Indígenas, feito para as mulheres, o grupo que passou a se chamar AMIPO (Articulação das mulheres indígenas de Poranga). Também iniciou o funcionamento de uma sala multifuncional (para crianças portadoras de necessidades especiais), inicio das aulas do 3º grau indígena, aprovação como pessoa física por um membro da comunidade do projeto: Diversidade, tradição e cultura dos povos indígenas Tabajara e Kalabaça Poranga do Prêmio Tuxáua Cultura Viva. E ainda o projeto Ponto de Cultura.
           

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